O ChatGPT está chegando com tudo, atraindo a atenção de muitos, essa ferramenta de inteligência artificial produz textos, poemas, artigos, orientações, conselhos entre outros mediante o comando do usuário.
É a proposta da inteligência artificial que veio para conviver com a inteligência humana. Os efeitos disso ainda não sabemos como se darão. A BBC produziu um artigo, que tem como entrevistado Michel Dermuget, cujo título é 'Geração Digital'. Nele o autor escreve que pela primeira vez, os filhos têm QI menor que os pais contrariando o 'efeito Flynt', cuja tese pregava um aperfeiçoamento intelectual a cada geração.
Seria esse um dos efeitos da digitalização do pensar?
Penso que a questão é mais complexa. No livro Escritos, Lacan usa um termo interessante, a anorexia mental. Na minha interpretação, ela se dá quando o pensar não é nutrido e os afetos originários são recalcados para dar lugar às identificações, idealizações e tudo aquilo que povoa as construções imaginárias. Isso se dá de forma inconsciente e de forma corrente.
Na clínica, é percebido que o sofrimento humano decorre muitas vezes de situações em que o sujeito renuncia ao seu desejo e de um pensar próprio em favor da demanda do outro. Os resultados geralmente são desastrosos e adoecedores.
Adicionalmente, quando pensamos sobre os tempos que vivemos, onde floresce a idolatria da imagem e os aparatos de inteligência artificial proliferam, o combate da anorexia mental é ainda mais vital.
Parece que tudo conspira para que embarquemos nesse universo de idealizações e timidez do pensar, criando confusão entre subjetividade própria e imagem. Há uma arquitetura algorítmica que vem dizer o que se deve ser. Se sustentar o próprio desejo exige trabalho pessoal, com o bombardeio tecnológico-imagético esta tarefa se torna ainda mais difícil.
Reconhecer as transformações em curso também é uma forma de combate da anorexia mental. É trabalhoso, sem dúvida, mas se omitir a combatê-la pode dar muito mais trabalho.
Comments